Ecossistema que se desenvolve entre o ambiente terrestre e o marinho, nas regiões tropicais e subtropicais, associado a uma vegetação influenciada pela amplitude das marés e salinidade dos solos. No Brasil, o manguezal ocupa 25.000 km2. É formado por árvores típicas chamadas «mangues», caracterizadas por raízes aéreas, longas, que se ramificam para fora do solo argiloso, pobre de oxigénio. É um ambiente resiliente que desempenha complexas funções ecológicas: impede a erosão costeira, exporta matéria orgânica para o mar e é essencial para a reprodução de várias espécies animais. No Brasil colonial, as sesmarias incluíam manguezais – áreas alagadiças, imprestáveis para a agricultura e edificações, consideradas realengas e de uso comum. Tinham várias utilizações: da casca do mangue-vermelho (Rhizophora mangue), retirava-se o tanino que servia para curtimento de couros e a madeira para caibro; o mangue-branco (Laguncularia racemosa) fornecia lenhas para as moradias, olarias e engenhos; a lama era medicinal; os peixes, caranguejos e ostras, apanhados de forma rústica, completavam a dieta alimentar das populações mais pobres. Nas adjacências, caçava-se capivaras, gambás e tartarugas para o consumo da carne. Sustento dos povos nativos, escravos africanos e pobres livres, os manguezais também eram disputados entre os sesmeiros. Destacam-se os conflitos ocorridos em 1644 e 1677, quando beneditinos, jesuítas e alguns proprietários de sesmarias às margens da Baía e do Recôncavo da Guanabara tentaram impedir que a população utilizasse essas zonas. Após ameaças de excomunhão, inúmeros embargos e intervenções da câmara municipal, a carta régia de 04/10/1678 concedeu à população do Rio de Janeiro o direito de cortar os mangues da cidade. [A: Maria Sarita Mota, 2015].
Bibliografia: Abreu 2010: I, 342-345; Amador 2012: 228-242; Coaracy 1965: 197-198; Soffiati 2004.
doi:10.15847/cehc.edittip.2015v016