O termo “roça”, em seu sentido original, designa o terreno sobre o qual se roçou, ou limpou, o mato para efeito de plantio. No contexto dos primeiros impulsos colonizadores do império português, como elemento intrínseco ao fenômeno do avanço da fronteira agrícola, a roça se identificava com os empreendimentos pioneiramente instalados, cuja fundação dependia efetivamente do desbravamento. Com o avanço da experiência colonial e com a consequente conformação de sistemas agrários, o termo foi embebido de sentidos que respondiam às diferentes realidades e tempos do universo colonial. Para o Brasil, embora a roça carregue uma acepção mais genérica que a vincula à ideia de “terra de lavoura”, é patente sua identificação, desde pelo menos meados do Setecentos, com a agricultura de subsistência, especialmente com as culturas da mandioca e do milho. Assim, na América Portuguesa, o termo se refere mais a uma gleba no interior de uma propriedade rural do que a um tipo específico de unidade produtiva, se bem que o “viver da roça”, no contexto de vigência das economias agroexportadoras, passou a ser associado à atividade camponesa, isto é, à produção de culturas alimentares, à mão-de-obra de base familiar e à pequena propriedade.
Na experiência colonial de São Tomé e Príncipe, roça deu nome a propriedades rurais de dimensões e funções variadas. Nos séculos XVI e XVII, o termo, como no Brasil, estava atrelado à cultura agrícola de subsistência praticada em pequenas propriedades. A partir das décadas de 1860 e 1870, porém, passa a designar principalmente as empresas coloniais de cultivo do cacau e do café e, com isso, se associa mais à grande propriedade e à exploração latifundiária. Uma vez que estes empreendimentos monocultores converteram-se em células básicas da colonização e povoamento das ilhas, o emprego do termo “roça” para identificá-los não apenas denota o desbravamento do obô (a densa floresta nativa das ilhas), como também simboliza o processo de penetração do complexo socioeconômico colonial em áreas até então incultas. A implantação das roças partia usualmente de uma roça-sede, grande latifúndio bem aparelhado e basicamente autossuficiente. Havia também roças de menores dimensões, que podiam ou não estar diretamente associadas às roças-sedes. Quando associadas, eram denominadas “dependências” e exerciam funções subsidiárias integradas à gestão da roça-sede, tanto no provimento interno, quanto no escoamento dos produtos agrícolas. O aprofundamento na interdependência das roças esteve também na origem do desenvolvimento das malhas de transporte e comunicação, possibilitando o contato entre as populações das roças e as de espaços independentes. Nesse sentido, as roças figuraram como agentes estruturantes do território santomense. Do ponto de vista da organização interna, as roças tinham no terreiro seu ponto referencial, em torno do qual se erigiam a casa da administração, senzalas, habitações de empregados europeus, prédios de beneficiamento e armazenagem e, no caso das roças-sedes, igrejas, hospitais, escolas e demais dependências administrativas. No eito, predominava um regime de trabalho compulsório estabelecido pela via da contratação. A mão de obra era basicamente composta por imigrantes provenientes, a princípio, da costa ocidental da África e, mais tarde, das demais colônias portuguesas deste continente. [A: Gusthavo Lemos, 2015]
Bibliografia: Bluteau 1712-1728; Eyzaguirre 1982; Linhares & Silva 1981; Nascimento 2002; Schwartz, 2001; Tenreiro 1961.
doi:10.15847/cehc.edittip.2015v017
[…] primeiras roças de cana-de-açúcar, mas só em 1515 há notícia da construção de um engenho. Roças e engenhos de açúcar depressa se multiplicaram. Das 123 mil arrobas produzidas em 1528 passou-se […]