O título de gancar (gāunkār) refere-se à largas centenas de unidades linhageiras que por razões de ordem política, mitológica e ritual dominavam as chamadas gancarias, ou comunidades aldeãs de Goa, gozando de acesso privilegiado ao solo e demais recursos naturais e humanos no interior da aldeia a que estavam afectos. Do ponto de vista da casta, as gancarias eram maioritariamente dominadas por linhagens sudra, ainda que algumas áreas do território fossem, a este respeito, controladas por brâmanes, chardós e outros grupos. Após a sua incorporação nas estruturas políticas do Estado da Índia, os gancares foram progressivamente despidos das funções que desempenhavam sob os regimes de Bijapur e Vijayanagar, processo que coincidiu com a transferência maciça de direitos (cuntos ou khunts) sobre os saldos das gancarias para as mãos de investidores externos alheios às respectivas “comunidades”. Desinvestido do controlo sobre a economia fundiária local e das funções políticas que lhe estavam anexas, o estatuto de gancar passou assim a recobrir um significado quase exclusivamente ritual, posição que se mantém até aos dias de hoje. [A: Manuel João Magalhães, 2014]
Bibliografia: Magalhães 2013; Pereira 1981; Rubinoff 1997.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v057
[…] aparelho estatal, assegurando através de um número restrito de linhagens localmente dominantes (gancares ou gāunkārs) diversas funções de ordem fiscal, agrária, militar e judicial: forneciam apoio […]