As donas, enquanto categoria social que identifica mulheres de grande riqueza e poder, decorrentes da posse de terras, do comércio e do domínio de pessoas, existiram um pouco por todo o império português moderno. Porém, as donas ficaram fundamentalmente associadas às detentoras de prazos do vale do Zambeze. Notando-se já como possessoras fundiárias salientes em Seiscentos, as mulheres tornaram-se, no século XVIII, as principais titulares de terras. Em 1798, por exemplo, detinham 65% dos títulos de aforamento. No contexto de uma colonização fundamentalmente masculina, elas acederam às terras em resultado da elevada mortalidade dos europeus, de estratégias familiares para estabelecer alianças com recém-chegados e de opções políticas para fixar reinóis. Numa região de África onde as mulheres detinham posições de autoridade nas estruturas políticas, sociais e religiosas nativas (matrilineares ou patrilineares), as donas puderam construir um imenso poder baseado não apenas nos bens que detinham, mas, ainda, no controlo das populações africanas, incluindo aí escravos e livres. Dadas as características da colonização de Moçambique, estas mulheres eram, maioritariamente, mestiças (descendentes de africanas e de europeus e goeses). Algumas goesas, sobretudo no século XVIII, tiveram, igualmente, um papel relevante na construção do estatuto das donas. Geralmente, estas mulheres partilhavam aspectos culturais africanos e falavam mal o português. Sucessivamente viúvas, muitas contraíam múltiplos casamentos ao longo da vida. Entre as mais célebres donas, no século XVIII, encontram-se D. Inês Gracias Cardoso, D. Inês Almeida Castelbranco, D. Francisca Josefa Moura Meneses e D. Catarina de Faria Leitão. No século seguinte, destacaram-se D. Eugénia Maria da Cruz, D. Luísa Micaela da Cruz, D. Paula da Cruz e D. Macacica. [A: Eugénia Rodrigues, 2014]
Bibliografia: Boxer 1975; Capela 1995: 67-102; Newitt 1997: 228-232; Rodrigues 2000.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v013