da Terra e do Território no Império Português

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Cabra

Termo comumente utilizado na região Nordeste do Brasil, durante o período colonial, para designar um grupo de indivíduos de entre os camponeses e trabalhadores da terra. Relacionado inicialmente aos índios, por estes, tal como as cabras, terem o costume de mastigar a erva do campo, esse termo viria a ser sobretudo utilizado na referência à mestiçagem. Entendido como filho de pai mulato e mãe negra, ou o inverso, cabra foi utilizado para identificar uma categoria social e étnica, especificamente a que envolvesse composições formadas, dos dois lados, por indivíduos considerados de cor. Por essa linha de designação, o termo passou a exprimir um sentido pejorativo, uma vez que, na América portuguesa, a mestiçagem apontava para o caráter da ilegitimidade do indivíduo. Em virtude dessa ênfase na questão da cor, e da relação feita com a escravidão africana, o termo serviu como definidor dos grupos sociais relacionados ao trabalho com a terra: escravizados e também camponeses, homens livres e pobres, ou seja, trabalhadores sujeitos a um senhor ou patrão – posseiros, moradores e agregados. Por outro lado, cabra, originalmente um substantivo feminino, passou a designar uma categoria social, adquirindo a definição gramatical de substantivo masculino e, em determinadas ocasiões, de adjetivo, com sentido depreciativo. O termo cabra era definidor de um indivíduo hierarquicamente inferior na escala social, o que respondeu ao interesse português e das classes dominantes brasileiras de estabelecer uma hierarquia social baseada na mestiçagem, bem como na relação e trabalho com a terra. [A: Ana Sara Cortez Irffi, 2015]

Bibliografia: Bluteau 1712-1728; Figueirôa-Rêgo e Olival 2011; Irffi 2015; Moraes Silva 1813.
doi:10.15847/cehc.edittip.2015v037

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