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Quinta
A quinta (quintã na grafia antiga), deriva etimologicamente do vocábulo latino quintana, cujo significado e evolução semântica permanecem relativamente obscuros. Segundo Bluteau, o significado está relacionado com o costume de o rendeiro da quinta entregar ao dono dela a quinta parte dos frutos, explicação que, porém, não parece historicamente comprovada. Maior consenso recolhe a ideia de que na origem da quintã medieval esteve o fracionamento das antigas villae rusticae romanas. Mas o facto mais significativo para a aproximação ao conceito moderno de quinta ocorre no final da época medieval, quando a quinta é identificada com a reserva indominicata – a parcela das honras senhoriais diretamente explorada pelos senhorios – e adquire uma forte ligação à construção da casa, símbolo prestigiante da aplicação dos excedentes agrícolas num bem durável. Entretanto, com o Renascimento assistir-se-ia ao nascimento da quinta de recreio, enquanto sinónimo de casa de campo e verdadeiro paradigma do jardim português. Embora votada ao cultivo de hortofrutícolas, vinhas, campos cerealíferos, pastagem e até parcelas florestadas, a dimensão produtiva da quinta não lhe retira o sentido da amenidade campestre (locus amoenus), enquanto signo de uma vivência citadina associada a gente de elevado estatuto social. No espaço ultramarino português, a designação de quinta apenas foi utilizada de modo sistemático na Madeira e nos Açores. No Brasil, estão referenciados alguns casos, nomeadamente no Rio de Janeiro e em Salvador, mas as unidades prediais com características semelhantes receberam preferencialmente a designação de chácara e sítio. No Índico, a referência a quintas foi ainda mais residual, não obstante as suas semelhanças com as casas senhoriais fortificadas dos foreiros portugueses na Província do Norte. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2016]
Bibliografia: Albergaria 2000; Carapinha 1995; Reifschneider 2010; Serrão 2002.
doi: 10.15847/cehc.edittip.2016v004
Vinha (Açores)
O vinho é um produto mediterrânico que cedo se procurou introduzir nos Açores, tendo vindo os primeiros bacelos, muito provavelmente, da Ilha da Madeira, ainda em finais do século XV. Mau grado as deficientes condições edafo-climáticas na generalidade dos solos açorianos, algumas ilhas, e designadamente certas zonas costeiras de solos pedregosos (biscouto e lajido) impróprios para a cultura cerealífera, demonstraram boa aptidão para a viticultura. A videira cresce bem na costa sul de Santa Maria; nos Biscoutos, na costa norte da Terceira; nas imediações de Santa Cruz da Graciosa e em algumas fajãs de São Jorge. No conjunto das ilhas açorianas destaca-se, porém, a ilha do Pico, onde a cultura da vinha constituiu, ao lado da pastorícia, a principal atividade económica e logrou alcançar um volume de negócio e uma rede internacional de mercados de consumo, com destaque para as colónias americanas e os portos do norte da Europa, que culminaria nos séculos XVIII e XIX, até que, em meados de oitocentos, o oídio, logo seguido da filoxera, vieram atacar as plantações e instalar uma crise profunda na economia picoense, com amplas consequências sociais e demográficas. A principal particularidade da cultura da vinha nos Açores, modeladora do caráter da paisagem, consiste na infra-estruturação dos terrenos, traçados numa quadrícula de malha apertada formada por pequenos muros de pedra chamados curraletas ou currais. Na ilha do Pico, uma vasta parcela desta paisagem da cultura da vinha, com uma área de cerca de trinta quilómetros quadrados, abrangendo os concelhos de Madalena e São Roque, foi mesmo reconhecida pela UNESCO em 2004 como Património da Humanidade. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2016]
Bibliografia: Gaspar 2005; Meneses 2011; Veloso 1988.
doi: 10.15847/cehc.edittip.2016v003
Courela
Pedaço de terra comprido e estreito cuja etimologia deriva do árabe quayrella (um submúltiplo da quayra) e que representa, segundo alguns autores antigos, uma medida agrária de superfície com cem braças de comprimento por dez de largura (aproximadamente 220 por 22 metros na conversão para o sistema métrico). Se é certo que o termo remete para a forma e dimensão do prédio e não tanto para uma determinada vocação de cultivo, também é verdade que as parcelas agrícolas com essa designação nos territórios do continente português, do Brasil e das ilhas Atlânticas não obedecem rigidamente a medidas-padrão, apontando no sentido de uma evolução semântica do vocábulo que progressivamente se afasta da unidade de medida. No Brasil chamava-se por vezes coureleiro ao sesmeiro que procedia à repartição das courelas. Nos Açores, o termo está presente na micro-toponímia de diversas ilhas (Santa Maria, São Miguel, Terceira, Faial e Graciosa). [A: Isabel Soares de Albergaria, 2015]
Bibliografia: Almeida e Lacerda 1878 (1): 815; Leite 2012; Nozoe 2014; Serrão 2002.
doi:10.15847/cehc.edittip.2015v044
Cerrado
Cerrado, também grafado como serrado ou sarrado nos Açores e na Madeira, é uma parcela de terreno agrícola delimitado por muros baixos de pedra seca, ou outro tipo de divisórias com materiais lenhosos ou sebes vivas, de dimensão variável e destinado ao cultivo preferencial de cereais (cerrado de pão), embora muitas vezes convertido em pasto. Na Madeira é sinónimo de poio. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2015]
Bibliografia: Abreu et al 2005; Serrão 2002; Silva 1950.
doi:10.15847/cehc.edittip.2015v043
Monte
Tipo predial com significado equivalente ao de casal ou prédio rústico isolado e desenvolvido em torno de um núcleo edificado, comum às regiões do Alentejo e Algarve e, por extensão, reconhecido em tempos recuados nalgumas ilhas dos Açores. O vocábulo surge amiúde na documentação insular dos séculos XVI a XVIII, associando-se aqui a propriedades administradas pelas camadas possidentes, pelo que adquire uma conotação de prestígio social que remete para um valor e conceito distintos dos que se aplicam no continente português. Quase sempre administrados em regime de exploração direta, os montes foram frequentemente integrados na vinculação de bens e convertidos em sede das casas morgadias, como testemunha Frei Agostinho de Santa Maria (1707-23) quando refere a propósito dos Açores que «nos montes, ou herdades há casas nobres, em que vivem os senhores delas». Não obstante, a sinonímia com o termo quinta (por vezes também com casal) revela que não estamos em presença de uma realidade unívoca, sendo a pragmática da palavra aplicada, sem distinção significativa, em contextos formulares idênticos. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014, 2015]
Bibliografia: Albergaria 2012; Santa Maria 1723 (10): 323.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v073
Lomba
As lombas, lombos ou lombadas constituem locais de povoamento típicos das ilhas da Macaronésia lusófona, determinados por uma geomorfologia de terrenos elevados e interfluviais. Toponimicamente estão muito ligados à ilha da Madeira, ao arquipélago cabo-verdiano (ilhas do Fogo e Santo Antão) e ao arquipélago dos Açores (ilhas do Faial, Flores e S. Miguel), destacando-se na maior ilha deste arquipélago as sete lombas da vila da Povoação. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014]
Bibliografia: Albergaria et al 2008; Silva 1965.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v072
Valado
Os valados ou valadas eram usados para cercar as propriedades ou as respetivas parcelas agricultadas, sendo uma expressão reconhecida em algumas ilhas açorianas e em certas regiões do Brasil. Mas se o uso funcional não oferece dúvidas, a forma concreta que assumiam, tal como é descrita pelos autores antigos, diverge. Segundo Raphael Bluteau constituíam “terra levantada e assentada com balde” no meio da qual se metiam silvas e em cima estacas; já Antonio de Moraes Silva identifica-os como “vala de pouco fundo com sebe ou tapume de fechar e cercar quintas”. Numa aceção mais genérica, os valados constituíam tão só um meio de “fechar” as terras menos oneroso do que a construção com muros de pedra, e dotados da vantagem suplementar, quando formavam valas, de servirem de canais de drenagem. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014]
Bibliografia: Bluteau 1728 (8): 355; Moraes 1813 (2): 828.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v070
Reduto
Enquanto tipo predial, o termo reduto, de clara ressonância militar, usava-se nas ilhas açorianas do grupo central (Terceira, Faial, Pico, S. Jorge) para designar o terreno adjacente à casa de moradia, delimitado por muros de pedra. Sendo na substância equivalente a quintal, evidencia-se a forte conotação com a função defensiva. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014]
Bibliografia: Faria 1989; Machado 1917.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v069
Fajã
Nome dado, em toda a Macaronésia lusófona (ilhas da Madeira, S. Miguel, Terceira, Graciosa, Pico, Faial, S. Jorge e Flores do arquipélago dos Açores e ilhas de São Nicolau, Brava e Fogo do arquipélago cabo-verdiano), aos terrenos planos ou de declive pouco acentuado situados no sopé de arribas costeiras de grande desnível, ou, mais para o interior, quando resultam do desabamento das vertentes montanhosas. A formação das fajãs pode derivar de derrames lávicos, como acontece frequentemente nas ilhas açorianas, ou por acumulação detrítica, sendo neste caso resultante quer do processo erosivo provocado pela acção das águas e dos ventos, quer por ação tectónica. Embora esteja, em regra, relacionado com plataformas costeiras, o topónimo pode surgir aplicado a zonas aplanadas na base de encostas íngremes e, nesse caso, praticamente se confunde com as achadas. É o que acontece com as freguesias de Fajã de Baixo e de Fajã de Cima, na ilha de São Miguel, da Fajã das Ovelhas, nas faldas da Serra de Santa Bárbara, na ilha Terceira, ou das fajãs madeirenses da freguesia do Jardim do Mar, freguesia da Fajã da Ovelha, Fajã da Nogueira ou Fajanzinha de Bento. A grande fertilidade associada às fajãs de talude motivou desde longa data a presença humana nestes espaços, geralmente sazonal, e determinou o cultivo de uma apreciável variedade de vinha e frutas, destacando-se o caso das fajãs da ilha de S. Jorge (existem nesta ilha cerca de setenta fajãs) onde, entre outros cultivos raros nos Açores, pode mencionar-se o café e a oliveira. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014]
Bibliografia: Abreu 2005; Nunes 2007; Silva 1965.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v068
Mistérios
Designação dada em algumas ilhas dos Açores aos mantos de escoadas lávicas sobre terra arável, ainda pouco meteorizadas e resultantes de erupções históricas. A origem do nome remonta pelo menos ao século XVI e deve-se à incompreensão e mistério provocados por estes fenómenos geológicos causadores de grande temor entre a população. Na ilha do Pico os “mistérios” da Prainha (1562), de São João e Santa Luzia (1718) e da Silveira (1720) constituem extensas faixas de solos rególitos cobertos por mato e algum arvoredo; na ilha do Faial, o Mistério do Cabeço do Fogo destruiu parcialmente a freguesia do Capelo em 1672, tal como aconteceu com o lugar dos Biscoitos após a erupção ocorrida no Mistério Velho em 1761. [A: Isabel Soares de Albergaria, 2014]
Bibliografia: França 2014; Nunes 2007.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v067