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Livro das Cidades e Fortalezas (1582)
O Livro das Cidades, e Fortalezas, que a Coroa de Portugal tem nas partes da Índia, e das Capitanias, e mais cargos que nelas há, e da importância deles, é um texto que foi dirigido a Filipe II de Espanha, pouco tempo depois de este ser aclamado rei de Portugal. Pretendia oferecer ao novo rei uma descrição global e pormenorizada (exclusivamente textual, sem desenhos) dos territórios por este herdados no Estado da Índia e é hoje um documento com uma grande importância para o estudo deste espaço no contexto do governo dos Habsburgo. Apesar de o manuscrito original não estar datado, a informação que contém indicia que terá sido escrito cerca de 1582. A autoria é desconhecida, mas a linguagem cuidada e os conhecimentos demonstrados revelam que o seu autor seria um oficial de topo do Estado da Índia. O códice, composto por 107 fólios, só foi editado pela primeira vez por Mendes da Luz, em 1952, a partir do manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Espanha (Manuscritos, 3217). Na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (Série Azul, 993) encontra-se um fragmento com apenas três capítulos, os dedicados a Goa, Bardez e Rachol, e Chaul.
O Livro das Cidades e Fortalezas sublinha a importância do conhecimento aprofundado dos territórios para a consolidação do projecto imperial na Ásia, sobretudo num momento de mudanças assinaláveis no processo central de decisão política e suas consequências na administração do império. Informa sobre a fisionomia geográfica, política e cultural que envolve as diferentes cidades e fortalezas do Estado da Índia (os rios, as aldeias e povoações adjacentes, os potentados locais, as religiões, etc.). Reconstitui a história da presença e ocupação dos portugueses das várias regiões do Estado da Índia, bem como da evolução das suas relações com as forças locais e as potências vizinhas. Explica pormenorizadamente a sua organização do ponto de vista da administração colonial (v.g. cargos, recrutamento e nomeação, ordenados) e os seus valimentos do ponto de vista económico (produtos, circuitos e “viagens” comerciais) Dá informação sobre as características das cidades em termos de população e edifícios. Tece considerações sobre a organização do território nas influências recebidas dos sistemas locais e nas suas equivalências no sistema português, oferecendo descrições de termos como “tanadar” e “tanadaria” (fol. 10). Informa também sobre noções locais, seja de moedas, medidas ou pesos, explicando, por exemplo, palavras como “baar” (fol. 69). Este tipo de documento, entre o relatório e as descrições geográficas, faz parte de um género que se tornou relativamente comum na época e de que também é exemplo, entre outros, o Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado da Índia Oriental, escrito por António Bocarro, em 1635, este acompanhado por representações cartográficas da autoria de Pedro Barreto de Resende. Eram, no fundo, obras que pretendiam informar os órgãos centrais de decisão política sobre os territórios ocupados e colmatar as dificuldades geradas pelas distâncias e pelo desconhecimento das realidades coloniais. [A: Graça Almeida Borges, 2014]
Bibliografia: Livro das Cidades e Fortalezas 1582; Bethencourt 1998: 284-289; Garcia 2009.
doi:10.15847/cehc.edittip.2014v075